Total de visualizações de página

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

VIVER É ARRISCAR-SE


“Viver ultrapassa qualquer entendimento” – C. Lispector


Sinto-me aspirante de coisas mais nobres. Mas aspiro a uma nobreza fora dos conceitos sabidos de hoje; uma nobreza que é invisível aos olhos. Por isso, estou sendo capaz de deixar uma “vidinha” que aparentemente seria mais segura, confortável, palpável e certa. Virei-me contra a correnteza deste mundo, e agora faço a rota inversa. Como tantos, fui desafiado; mas como poucos, aceitei. Nunca me contentei com o pouco. Corro riscos, sinto medo. Mas sonhos sem riscos trazem conquistas sem méritos. Viver é arriscar-se.
E é em grande parte devido ao sobredito, que aceitei um chamado e estou inteiro para uma experiência passo-a-passo na vida religiosa. Uma vida construída. Uma família constituída. Quero viver minhas etapas... Todas elas. Posto que, não existe o cominho; o caminho se faz ao caminhar. Isso hoje é o meu sonho, parte de meus ideais. E desejo ir a fundo, gosto do profundo. Não gosto de água com açúcar. E não estou indo simplesmente porque quero; antes disso, estou sendo levado, por uma Força maior do que eu, e que, portanto, transcende-me de um modo absurdo. Ele me venceu.
No fundo, somos todos como Abraao, rumo ao monte Moriá; sozinhos em nossas escolhas e renuncias, sendo que a escolha de algo é necessariamente renuncia de outro. A vida é isso; um constante “trade-off” entre  escolhas e as perdas e ganhos que as acompanham. E ainda, cada atitude é uma tomada individual; somos existentes singulares e ninguém pode tomar nossos passos, que inclusive estão sempre para serem dados.
Eis o paradoxo da existência: a liberdade que é inata nos obriga sempre à tomada de decisões; e muitas vezes não suportamos o suficiente para sermos autores das mesmas, e permitimos que a própria vida e os outros, escolham por nós; e de fato, se não cuidarmos a vida leva. Digo com Kiekegaard que a angústia que me ronda hoje neste peito inquieto é apenas vertigem da felicidade construída que me aguarda nestes primeiros passos que dou; em busca de uma vida íntegra e iluminada.
O importante de tudo é reconhecer que o peso de se viver (intensamente) é inevitável, mas que através das experiências profundas e absurdamente humanas com o Deus presente no outro - através da gratuidade do "ser-com" - conseguiremos  (re)construir-nos  continuamente em direção ao "feliz"- que nesta terra é apenas pré-figurado - e então dizer, gritar que A VIDA É BEM MAIS QUE ISSO, E VALE A PENA SER VIVIDA!
A vocação é um arriscar-se nas mãos de Deus.
Ele me chamou, e depois de muito relutar, o Sim ‘daquela’ eu soube dar. Agora todo nEle me confio.
Eis que aqui estou;
Fiat voluntas tua!

Gabriel Nascimento,
Vocacionado Aspirante
Ordem de Santo Agostinho


sábado, 29 de dezembro de 2012

ESCOLHO SER FELIZ




Dessa vez escolho ser feliz não importando onde eu esteja, onde tenha que ir, se terei que recomeçar em outro lugar, aqui; perto ou bem longe, desde que Deus esteja comigo, segurando a minha mão.
Dessa vez escolho ser feliz com as pessoas que estiverem ao meu lado, com os poucos AMIGOS de sempre, com quem os laços de amizades não se romperam,  e com o tempo se fortificaram, mesmo com as ausências.
Dessa vez escolho ser feliz permitindo me abrir para o novo, para que novas pessoas adentrem o coração, sem esquecer-me de quem foi importante, de quem deixou-me um pouco de si, e leva consigo um pedaço de mim,  mesmo que hoje reste a SAUDADE, a vida segue. Necessidade latente e ardente de vivê-la e de seguir…
Dessa vez escolho ser feliz retribuindo com gratidão, amor e respeito,   àqueles  que sei que poderei contar sempre,  “ FAMÍLIA”,  que não abrem mão de você por maiores que sejam os seus defeitos, que riem  com você, e se te veem  chorar não hesitam em dizer-te “ um pedaço de mim dói por te ver assim, quero sofrer suas dores!  “MÃE”
Dessa vez escolho ser feliz descobrindo no deserto que há em mim o manancial de águas claras que esteve todo tempo aqui, a nascente não desistiu de jorrar e não cessa. Queira eu mergulhar-me e mergulhando-me encontrar-me, e encontrando-me, conhecer-me e compreender que tudo na vida tem um propósito, tem um plano,  mas também tem várias portas. Mais que cautela! bem mais que razão, mas com discernimento e oração, decidir em qual delas deverei entrar! “OPORTUNIDADES”.
Dessa vez escolho ser feliz jogando sementes de amor na terra de corações sedentos de Deus, arrancar sorrisos de rostos tristes, levar ânima  àqueles que se sentem cansados, desfalecidos, mas que se rendem a pequenos gestos de carinho, uma canção, ou quando lembrados “ Você é amado por Deus!” e retribuem com um sorriso recíproco ou desconcertado que se ajeita num abraço, “ RECOMPENSA.”
 DOAR-me quando o meu humano mais desejar receber!
Dessa vez quero ser feliz desponjando-me do meu eu, voltando-me para Deus… mesmo não sendo intencional, há momentos que damos prioridade para que outras pessoas e coisas se tornem o centro de nossa vida e Deus passa  a ficar em  segundo plano, quando ele devera ser o primeiro e o centro de tudo sempre.
Dessa vez escolho ser feliz, reconciliando-me com o meu passado,  o que não foi esclarecido, o que não foi dito e nem ouvido, as dúvidas, as promessas não cumpridas que geraram dor, abriram feridas, que fizeram-me esperar e construir um castelo de ilusões. “PROCESSOS…” Mais uma vez me deparo com a exigência do tempo, um dia após o outro e que nada se resolve num estalar de dedos. “ PACIÊNCIA”. 
Dessa vez escolho ser feliz resgatando a liberdade que Deus idealizou para mim, para qual me criou. destemidamente "LANÇAR-ME."
 É hora de colocar  cada coisa no lugar, começar a organizar a bagunça que está no coração. Para isso preciso ter em mente que para resgatar a minha liberdade, terei que regressar ao passado e esclarecer! por em pratos limpos, perder o medo de encontrar as respostas, ter como base de apoio a ORAÇÃO, Deus não nos abandona. Nessas horas me põe no colo, eu sei e sinto, "CONSOLO".

Escolher  é estabelecer um FOCO! E o meu foco agora é SER FELIZ!




Ione Aquino
                                                                                                              
       

NOITE DE NATAL



“E Maria deu a luz  ao seu primogênito, ela o enfaixou e colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria” ( Lc. 2, 7)
A cada natal é essa a peleja de Maria e José, porque estamos permitindo que o mundo imponha  a sua forma de comemorar o natal.
O clima de festa paira no ar, as cidades iluminadas e enfeitadas formando um ballet reluzente em sicronia com o compasso do “dingoubell” Talvez ainda a essa hora há pessoas por aí apressadas em busca dos presentes de última hora e aquelas acertando os últimos detalhes da ceia natalina (privilégio de poucos).
E eles Maria e José ainda procuram   um cantinho para abrigar e aquecer o recém-nascido. Estão a procura de corações contritos e disponíveis que clamem: “ vem nascer em mim quero renascer neste natal. Se não havia canto para você nascer eu te dou meu coração”. (Com. Católica Shalom)
Creio que seja essa a atitude que Maria e José esperam de nós. É esse o gesto que alegra e acalma o coração da mãe do salvador nesta noite.
O natal é tempo de simplicidade, de amar, perdoar, é tempo de alegria, de entoar louvores a Jesus menino, o redentor.
Que neste natal possamos retirar os excessos do nosso interior, juntar as palhas para aconchegar a manjedoura que receberá o Deus menino… o nosso coração.
“ vem nascer em mim menino quero renascer neste natal.”




por Ione aquino

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O JARDIM INTERIOR









“Resolveu pôr em ordem seu planeta. ‘É preciso que a gente se conforme em arrancar regularmente os baobás logo que se distinguem das roseiras’ – disse o principezinho. Naquele dia arrancou ele então, não sem um pouco de melancolia, os últimos rebentos de baobá. Ele julgava nunca mais voltar. Mas todos esses trabalhos familiares lhe pareceram naquela manhã, extremamente doces”. (O Pequeno Príncipe. A.S. Exupéry).

Em determinados momentos de nossa árdua existência, somos constantemente convidados a realizar o importante movimento vital de “pôr em ordem o planeta”; cuidar de nosso mundo interior; o que nem sempre é tarefa fácil. Para nós – hoje – o jovem e misterioso Pequeno Príncipe remete-nos à própria figura de Jesus Cristo, ainda que menino – mas pleno em sua divina Sabedoria. É este Deus que se faz homem e se revela, dentre tantas formas, como o pequeno agricultor e assim Mestre de nossas vidas – “Aquele que é mais interior que nós mesmos”, como afirmava St Agostinho. E de fato, Deus contempla o interior do ser humano – obra prima sua – como um fértil solo; e assim fomos feitos! E é desejo deste mesmo Criador amoroso, que saibamos administrar a jardinagem tão necessária de nossa própria alma.
Ao longo da vida, em cada experiência vivida, em cada etapa, mudança ou escolha existencial, vamos fazendo com que aos poucos, o jardim de nossa alma assuma formas, e, dependendo do caminho que tomemos e em especial dos laços que acabamos construindo (ou desfazendo) entre as pessoas... Permitimos-nos enfim cultivar várias espécies de plantas, e raízes. Assim protagonizamos a formação de nossa própria identidade interior.
Há quem seja repleto de flores; as raras flores da amizade (quanto mais pétalas, maior o tempo de convivência e intimidade). Aquelas roseiras, tulipas, margaridas e cravos cujas raízes são profundas, e espalhadas por todo solo. Mas também permitimos o ‘nascer’ dos chamados baobás. Estes seriam nossos “joios”, advindos das experiências mal vividas; traumas passados; frustrações afetivas; amargos sentimentos ressentidos... E no começo são todos iguais às roseiras. E se não atentamos logo encontram espaço para crescerem. Um perigo!
Não nos esqueçamos ainda das ervas daninhas... Que de nada servem, se não para ocupar importantes espaços entre as flores. E se concordarmos com Santo Agostinho: “o mal se concentra nos excessos”, perceberemos logo que a negligência, desatenção ou mesmo a velha preguiça, podem servir de livre (e rápido) crescimento destas pragas danosas.
Vivemos atualmente numa sociedade pós-moderna que realiza o caminho inverso ao proposto pelo nosso Pequeno Príncipe –  homens e mulheres (jovens ou adultos) apáticos, centrados naquilo que prega o estético. Humanos demasiadamente superficiais, e consequentemente alheios ao interior. O essencial do “hoje-urgente” se tornou a roupa (o sapato, o acessório, a roupa de griffe) que “irei me vestir”; ou a maquiagem que irá “cobrir meu rosto”. O homem atual ostenta o externo a si mesmo, e mal sustenta o que realmente o fará “ser” ou não. Parece termos esquecido que “o essencial é invisível aos olhos”.
É preciso jardinar a alma!
Fazer esse movimento que nos leva a enxergar o real estado de nosso mundo interior. É necessário arrancar (digo, “arrancar” e não retirar) de uma vez por todas, nossos baobás. E cedo! Desde a raiz, ainda que em formação. E devemos reconhecer que a verdadeira felicidade não consiste em cultivar meros “oba-obás”. Nosso Mestre interior, o Pequeno Príncipe (que na realidade é pequeno apenas diante daqueles não o creem) nos dará o arado, o instrumento necessário para tanto. Que não reste espaço para nenhuma erva daninha se multiplicar, atrasar ou danificar o crescimento de nossas raras flores. E por serem pequenas inúteis e de rasa raiz, façamos questão de arrancá-las fora com as próprias mãos. Reguemos, podemos os ramos, arbustos e rebentos de nossas reais e importantes flores. E se possível, utilizemos de esterco as daninhas que arrancamos... Assim tudo ficará no seu devido lugar.
E não esqueçamos jamais: cuidemos sempre de reservar lugar de honra para a mais essencial flor de nosso jardim – o enorme e belo botão da rosa de vocação, que dentre todas é a predileta do Pequeno Príncipe. Que esteja sempre bem assistida para enquanto que se prepara em seu verde quarto, escolhendo as cores com cuidado, ajustando uma a uma as pétalas; venha no dia oportuno desabrochar esplendorosamente, e nos irradiar o mistério de nossa vocação e vida neste mundo. Sim, porque a vocação se dá em processos.
Temos de admitir o quão doloroso pode ser tal esforço. Porém, mesmo com certa melancolia, ou até mesmo deixando algumas gotas de seiva pelo caminho (posto que tudo o que é arrancado incomoda), se faz indubitável restaurar a terra que nós próprios cultivamos.
Por isso, sempre nos lembremos de que toda mudança é processo vivido em etapas... Paulatinas e inquietantes etapas. Mas que após constantes jardinagens – podas, arranques, reajuste de raízes – contemplemos um jardim sadio, limpo e com espaços num solo já planado, arado e molhado, pronto a receber novas e boas sementes.
A vida é fruto da decisão de cada momento. Talvez seja isso, que a ideia de plantio seja tão reveladora sobre a arte de viver. Viver é plantar. É atitude de constante semeadura, de deixar cair na terra de nossa existência as mais diversas formas de sementes. Cada escolha, por menor que seja, é uma forma de semente que lançamos sobre o canteiro que somos. Um dia, tudo o que agora silenciosamente plantamos, ou deixamos plantar em nós, será plantação que poderá ser vista de longe…
Para cada dia, o seu empenho. A sabedoria bíblica nos confirma isso, quando nos diz que “ debaixo do céu há um tempo para cada coisa!”.
Hoje neste tempo que é nosso, o futuro está sendo plantado. As escolhas que procuramos, os amigos que nós cultivamos, as leituras que se faz, os valores que se abraça, os amores que amamos, tudo será determinante para a colheita futura.
Felicidade é isso: alegria de recolher da terra que somos, frutos que sejam agradáveis aos olhos do Criador! Pois bem, enxerguemos nosso próprio ser como um jardim onde cada sentido (cada área da vida e categoria da existência) se mostre como um canteiro, cujo solo traz consigo a marca criadora do Amor de Deus. Demos atenção ao que de fato é essencial por excelência, e nos faz verdadeiramente únicos: Cuidemos de nosso mundo interior, em especial nosso jardim.

O Pequeno Príncipe agradece!




Gabriel Nascimento 
Vocacionado Aspirante,
Ordem de Santo Agostinho.