“Viver
ultrapassa qualquer entendimento” – C. Lispector
Sinto-me
aspirante de coisas mais nobres. Mas aspiro a uma nobreza fora dos conceitos
sabidos de hoje; uma nobreza que é invisível aos olhos. Por isso, estou sendo
capaz de deixar uma “vidinha” que aparentemente seria mais segura, confortável,
palpável e certa. Virei-me contra a correnteza deste mundo, e agora faço a rota
inversa. Como tantos, fui desafiado; mas como poucos, aceitei. Nunca me
contentei com o pouco. Corro riscos, sinto medo. Mas sonhos sem riscos trazem
conquistas sem méritos. Viver é arriscar-se.
E é em grande
parte devido ao sobredito, que aceitei um chamado e estou inteiro para uma
experiência passo-a-passo na vida religiosa. Uma vida construída. Uma família
constituída. Quero viver minhas etapas... Todas elas. Posto que, não existe o
cominho; o caminho se faz ao caminhar. Isso hoje é o meu sonho, parte de meus
ideais. E desejo ir a fundo, gosto do profundo. Não gosto de água com açúcar. E
não estou indo simplesmente porque quero; antes disso, estou sendo levado, por
uma Força maior do que eu, e que, portanto, transcende-me de um modo absurdo.
Ele me venceu.
No
fundo, somos todos como Abraao, rumo ao monte Moriá; sozinhos em nossas escolhas
e renuncias, sendo que a escolha de algo é necessariamente renuncia de outro. A
vida é isso; um constante “trade-off” entre
escolhas e as perdas e ganhos que as acompanham. E ainda, cada atitude é
uma tomada individual; somos existentes singulares e ninguém pode tomar nossos
passos, que inclusive estão sempre para serem dados.
Eis
o paradoxo da existência: a liberdade que é inata nos obriga sempre à tomada de
decisões; e muitas vezes não suportamos o suficiente para sermos autores das
mesmas, e permitimos que a própria vida e os outros, escolham por nós; e de
fato, se não cuidarmos a vida leva. Digo com Kiekegaard que a angústia que me
ronda hoje neste peito inquieto é apenas vertigem da felicidade construída
que me aguarda nestes primeiros passos que dou; em busca de uma vida íntegra e
iluminada.
O importante de tudo é
reconhecer que o peso de se viver (intensamente) é inevitável, mas que através
das experiências profundas e absurdamente humanas com o Deus presente no outro
- através da gratuidade do "ser-com" - conseguiremos (re)construir-nos continuamente em direção ao "feliz"- que nesta terra é apenas
pré-figurado - e então dizer, gritar que A VIDA É BEM MAIS QUE ISSO, E VALE A
PENA SER VIVIDA!
A vocação é um arriscar-se nas mãos de
Deus.
Ele me chamou, e depois de muito
relutar, o Sim ‘daquela’ eu soube dar. Agora todo nEle me confio.
Eis que aqui estou;
Fiat voluntas tua!
Gabriel Nascimento,
Vocacionado Aspirante
Ordem de Santo Agostinho
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